Principais Causas da Depressão

Transcrição:

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Quais são as principais causas, fatores que desencadeiam o quadro depressivo, doutor?

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Essa é uma pergunta difícil de responder. Primeiro porque ela não tem uma resposta definitiva. Aliás, essa é uma coisa muito importante que eu cada vez falo com os pacientes que eu atendo. Quando eu vou explicar sobre como surgiu a psiquiatria metabólica, a primeira coisa que eu digo é justamente essa. Existe uma pergunta que nunca foi respondida de forma definitiva e é qual é a causa das doenças psiquiátricas? Essa pergunta nunca teve resposta. Ela tem hipóteses, ela tem teorias.

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Algumas a gente sabe. A gente sabe muito sobre fatores de risco, o que não necessariamente significa que a gente sabe sobre as causas. As fatores de risco são situações que, quando acontecem, aumentam a chance de a pessoa ter um quadro psiquiátrico, por exemplo, a depressão. Então, abuso na infância, tanto físico quanto psíquico, por exemplo. Situações socioeconômicas desfavorável, pobreza, miséria, baixa escolaridade.

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são situações que aumentam o risco de desenvolver depressão, mas não quer dizer que elas são a causa. Existe algum componente genético e vale a mesma coisa, a genética aumenta o risco de ter, mas não é a causa, a pessoa pode ter uma precipitação genética e não desenvolver depressão ou qualquer doença. Então essa pergunta nunca teve resposta, a teoria que sempre foi a teoria vigente, desde a metade do século passado, é o que a gente chama da teoria das monoaminas, esquece que eu estava dizendo um pouquinho antes.

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Monoamínas são substâncias, entre elas os neurotransmissores, ou vários deles, por exemplo, serotonina, noradrenalina, dopamina, são os mais conhecidos. A ideia de que é uma disfunção no efeito desses neurotransmissores, é uma baixa desses neurotransmissores que causa a depressão. Essa teoria surgiu da observação de que remédios usados para outros fins

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algumas pessoas quando tomavam esses remédios melhoravam no quadro depressivo. E a pergunta foi, que efeito será que esse remédio tem que faz a pessoa melhorar? E aí se viu que um dos efeitos do remédio era justamente aumentar o nível de neurotransmissões. Então daí veio a teoria. Então essa deve ser a causa. Só que essa teoria foi testada várias vezes a partir de então. Ela nunca se comprovou, ela nunca se mostrou verdadeira. Então a gente tem teorias. A gente sabe que existe um componente genético, que está muito bem estabelecido.

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a gente sabe que experiências ao longo da vida também são fator que aumenta o risco de ter, isso também está muito bem estabelecido, e aí do ponto de vista do funcionamento cerebral a gente tem uma nova teoria, que é justamente a implicação do metabolismo, aí sim a ideia, a proposta dessa hipótese é que aí seja a raiz dos quadros, que essas outras circunstâncias,

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abuso como experiência, como as experiências ruins de vida, levem a alterações no metabolismo cerebral que levam à produção de sintomas. Mas isso são hipóteses, não existe uma resposta definitiva para isso ainda. Pro Leigo que está chegando aqui, quais são os papéis dos neurotransmissores? Você falou da dopamina, serotonina, esses neurotransmissores estão associados a bem-estar, prazer, a sensação de conforto, e tem mais algum papel mais interessante? Porque fica mais fácil quando a gente entende qual o papel…

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E com essa baixa por que quadros de depressivos acontecem? É assim vou tentar resumir bem resumido mas só para entender os neurotransmissores eles são parte da comunicação entre os neurônios. Então assim bem didaticamente os neurônios eles não encostam um no outro eles têm um espaço entre eles que a gente chama de sinapse. Um neurônio libera neurotransmissores nesse espaço o outro neurônio capta esses neurotransmissores e assim se dá parte da comunicação entre eles.

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E alguns neurotransmissores de vários tipos estão associados a efeitos específicos. Não quer dizer que são os únicos efeitos, nem que tudo venha daquilo. Mas normalmente a gente fala. A serotonina está associada com bem-estar, satisfação. A dopamina está associada com a motivação, com a disposição, com a energia. O GABA, que é um neurotransmissor importantíssimo, está associado com o relaxamento da função cerebral. Tudo que acalma.

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O glutamato é o contrário, ele excita, ele aumenta a atividade cerebral. Então, por exemplo, o glutamato está aumentado na epilepsia, como também na ansiedade. Os neurotransmissores são parte da comunicação entre os neurônios, eles têm essas funções, esses efeitos. Essa é a importância deles, e realmente são muito importantes. E você falou do GABA, lembrei agora, tem um estudo, mais de um estudo, mostrando a relação de quem tem resistência insulínica, GABA está lá embaixo.

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Quando a gente fala em saúde metabólica, o doutor no início aqui da live fez uma correlação muito forte, né? Quem tem sobrepeso, obesidade, resistência insulínica tende a ter quadros depressivos, o contrário também é inverso. Então pessoas com resistência insulínica têm uma chance maior também de desenvolver quadros depressivos. Sem dúvida, a resistência insulínica é interessante porque ela está presente até onde a gente sabe, possivelmente em todos os quadros psiquiátricos ou neuropsiquiátricos.

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também está muito relacionado com isso. O interessante é que ela está presente antes da manifestação dos sintomas. Então, por exemplo, tem um estudo muito interessante que pega pessoas com o primeiro surto de esquizofrenia.

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E nessas pessoas, a resistência insulínica está bem mais presente do que as pessoas que não têm sessofrenia, antes de qualquer tratamento, antes de qualquer intervenção. É muito importante isso, porque isso inclusive determina a resposta que se vai ter aos tratamentos convencionais. A gente sabe, por exemplo, por pesquisa também, que pessoas com resistência insulina tendem a ter quadros psiquiátricos mais graves, tanto depressivos quanto…

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de transtorno bipolar, por exemplo. Pessoas com resistência a insulina tendem a responder menos aos remédios, pois tem uma aplicação direta no tratamento. Tem uma pesquisa interessantíssima que pegou pessoas com transtorno bipolar em fase depressiva. O transtorno bipolar tem as fases depressivas e as fases de alforia, as fases de, a gente chama de mania. Pessoas em fase depressiva refratárias, quer dizer, que já tinham tomado vários remédios e não tinham melhorado.

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quadros significativos, quadros graves.

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e separou as pessoas com resistência insulínica. E essas pessoas usaram metformina, que é um remédio que se usa comumente por diabetes, que tem como um dos objetivos principais melhorar a resistência insulínica. As pessoas que de fato melhoraram a resistência insulínica com a metformina melhoraram de forma significativa da sua depressão refratária, sem nenhuma intervenção psiquiátrica propriamente dita, não teve nenhum remédio psiquiátrico, foi só um remédio antidiabético.

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para ver como tem uma correlação muito forte do metabolismo cerebral do corpo inteiro, do cérebro, com o quadro psiquiátrico. Esse é um trabalho que para mim é revolucionário, porque ele mostra uma intervenção que supostamente não teria nada a ver com quadro psiquiátrico, melhorando de forma significativa um quadro refratário. E uma abordagem nutricional com pouco carboidrato é uma ferramenta excelente justamente para ressensibilizar a insulina, né? Reverter a resistência à insulina.


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