DEPRESSÃO: TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER ft. Dr. Régis Chachamovich – Episódio #326
Olá, boa tarde. Hoje é sexta-feira, 16 de junho de 2023, estamos iniciando mais uma live aqui no Atletas Low Carb, trazendo um tema muito importante que a gente nunca abordou com a certa profundidade, a gente já pincelou, a gente sabe que há algum tempo a gente está falando muito sobre a saúde metabólica e diversos aspectos relacionados à saúde, e não é à toa que toda semana a gente está atrás de um atleta ou um profissional da saúde de uma área específica, e sempre tem uma relação da saúde metabólica com essa área.
E aí a gente está recebendo pela segunda vez o doutor Regis, médico psiquiatra. Doutor Regis, muito obrigado por ter aceitado o convite. Seja muito bem-vindo novamente. Obrigado pelo convite, é um prazer estar aqui e vamos bater esse papo. Vamos lá. Você que está aqui acompanhando ao vivo, tiver alguma dúvida, quer enriquecer, quer agregar, pode colocar sua pergunta, seu comentário, seja muito bem-vindo, seja muito bem-vinda. Regis, o que é a depressão e quais são os seus principais sintomas?
Vamos lá, essa é uma pergunta que daria uma resposta longa. Sim, daria para começar por vários pontos, mas eu acho que um ponto interessante de começar é que depressão é a doença mais incapacitante entre todas as doenças, não da psiquiatria, da medicina, da saúde em geral. É uma epidemia, pandemia, como a gente quiser chamar, que cresce, cresce cada vez mais, vem crescendo de forma…
contínua nas últimas décadas. É uma condição bastante frequente, é uma doença que pode se apresentar de maneiras diferentes, a gente fala que ela tem uma apresentação heterogênea, mas tem alguns sintomas que são os sintomas principais, ou os sintomas, assim, aqueles que são o núcleo dos sintomas depressivos, que são basicamente…
A perda de vontade, a perda de interesse, a perda de prazer nas atividades do dia a dia, aquelas que normalmente são fontes de prazer ou satisfação que dão vontade de fazer. O humor rebaixado, quer dizer, a tristeza, o desânimo. E uma série de sintomas físicos. Alteração de apetite, na maioria das vezes uma diminuição, mas eventualmente um aumento de apetite. A mesma coisa em relação ao sono.
Na maioria das vezes a insônia, mas eventualmente um aumento, a gente chama de hipersônia, que é um aumento do sono, dores, cansaço, fadiga, esses são alguns, os sintomas são bem mais amplos do que esses, mas esses são os comuns. E um sintoma que é muito comum e que às vezes se fala pouco, que é irritabilidade. É extremamente comum também na depressão.
isso pode ocorrer independente da idade ou tem uma faixa etária que é mais frequente? Independente da idade é mais comum em mulheres, sempre foi mais comum do início da vida adulta em diante, mas a gente está vendo nos últimos tempos um aumento dos casos de depressão em
qualquer faixa etária pode começar em qualquer idade, pessoas que, eventualmente, nunca tiveram nenhum quadro depressivo, podem passar a ter idades mais avançadas. Isso está aumentando de frequência, inclusive nas faixas etárias, onde era menos frequente, como, por exemplo, a infância e a adolescência. Interessante. A gente aqui, para quem acompanha o Atlético Loucar, já temos aí, vai fazer cinco anos agora no final do ano, e…
Cara, a gente já trouxe inúmeros, incontáveis profissionais das mais diversas especialidades e a gente sempre vem vendo um forte cruzamento sobre a saúde metabólica geral, seja na gestação, seja na saúde cognitiva, seja na saúde metabólica, mas saúde metabólica não só em relação à inflamação, mas a como o desfecho anda mais na frente, na amamentação profissionais da ortopedia e por aí vai.
E aí é interessante o doutor Regis, ele assumiu essa bandeira da psiquiatria metabólica, que é o seu perfil no Instagram, e a gente vê pouca gente no Brasil, quase ninguém falando sobre isso. É interessante a gente também entender como pode ter uma relação, doutor, da saúde metabólica com a psiquiatria. Como a gente pode entender essa relação? É interessante isso, porque assim, por um lado é algo relativamente novo e recente,
mas essa prática é baseada num conhecimento que grande parte dele é antigo, bem antigo, antigo de décadas, de cinco, seis, sete décadas. Por exemplo, há muito tempo a gente sabe que quem tem obesidade ou diabetes, que são as duas marcas maiores das doenças metabólicas, diabetes e obesidade, quem tem qualquer uma dessas doenças tem uma chance muito maior de ter qualquer quadro psiquiátrico.
qualquer um deles. E o contrário também, quem tem qualquer quadro psiquiátrico tem uma chance muito maior de ter ou de desenvolver obesidade ou diabetes. Então, a relação estreita entre saúde mental e saúde metabólica é uma coisa que já se sabe há bastante tempo. Isso nunca tinha se transformado numa intervenção, num tratamento, numa intervenção terapêutica. Então, a gente sempre aprendia…
que a pessoa que tem obesidade, quando ela perde peso, ela pode eventualmente melhorar do seu quadro depressivo, por exemplo. Mas muitos pensavam que era, evidentemente, a pessoa que perde peso fica mais satisfeita, fica mais alegre, melhora o quadro depressivo, a explicação passava muito por aí, por exemplo. O que a gente sabe hoje em dia? Isso tem uma ciência que já existe há bastante tempo e tem alguma parte nova dos últimos anos ou da última década que, aí sim, adicionou muito conhecimento a isso.
que diz respeito às alterações do metabolismo cerebral, quer dizer, do funcionamento do cérebro, que estão presentes nas diversas condições psiquiátricas. E aí existem algumas alterações, uma série delas, que estão presentes praticamente em todos os quadros psiquiátricos. E essas são alterações que não são aquelas que a psiquiatria normalmente se ocupa ou se acostumou a se ocupar, que são…
que são as alterações que dizem respeito aos neurotransmissores. Os tratamentos psiquiátricos, pelo menos os tratamentos biológicos, as medicações, eles via de regra estão voltados ao efeito nos neurotransmissores. E não é que eles não tenham importância, mas eles são uma parte, eles são uma parte do que está na base das doenças psiquiátricas. E provavelmente, e essa é a teoria, a hipótese que embasa a prática da psiquiatria metabólica,
é que provavelmente as alterações neurotransmissoras são uma consequência e não propriamente uma causa. E aí tem vários motivos que levam a pensar nisso. Mas o principal deles, e isso é uma coisa que eu sempre falo assim, brincando, mas não brincando. O principal motivo é que os tratamentos que a gente tradicionalmente tem em psiquiatria, aí vale para depressão, mas vale para qualquer doença, eles infelizmente…
tem uma eficácia muito menor daquela que a gente gostaria que tivesse. Um número muito grande de pessoas faz o tratamento e faz um bom tratamento, quer dizer, consulta com bons profissionais, recebe boas indicações, segue as indicações que recebe e ainda assim não melhora ou melhora muito pouco. Então eu sempre falo brincando que se os tratamentos que a gente sempre teve funcionassem super bem, a psiquiatria metabólica nem existiria, como não existiria nenhuma outra…
uma teoria, outra abordagem, porque não seria necessário. A diferença é essa, é o conhecimento de que alterações metabólicas do funcionamento cerebral estão na base das duas psiquiátricas e as medicações ou os tratamentos que a gente tem hoje em dia, ou que sempre foram desenvolvidos, infelizmente não agem nessas alterações, ou algumas vezes agem piorando algumas dessas alterações.
E aí então a necessidade de ter novas intervenções, novas abordagens que têm efeito nisso. Essa é a base da psiquiatria metabólica. Do ponto de vista da limitação, doutor, você adere a alguma abordagem nutricional? Só a curiosidade em relação à depressão?
No tratamento da depressão é interessante isso, porque a gente tem dados de literatura, de pesquisas e dados de prática clínica. A gente sempre vai juntar as duas coisas e daí tirar o que seria as melhores abordagens. Existem poucos estudos de boa qualidade capazes de mostrar que uma dieta é eficaz no tratamento da depressão. Estudos de boa qualidade são estudos de intervenção, são aqueles estudos em que eu pego dois grupos de pessoas…
e para um grupo eu faço uma intervenção, para outro grupo eu não faço, eu comparo que resultados eles vão ter. Existem alguns estudos pequenos, eu conheço dois, com o uso da dieta mediterrânea para a depressão. E aí o que eles fizeram foi, junto com o tratamento de medicamentos que as pessoas já faziam, associar a dieta mediterrânea e o que se mostrou nos dois estudos foi uma melhora, um aumento de eficácia do tratamento, pequena a moderada.
foi uma melhora muito intensa, mas foi uma melhora significativa. E alguns relatos de casos, séries de casos, e alguns estudos pequenos, pilotos, iniciais de intervenção, com a diata cetogênica. E o que esses estudos sugerem é que o tamanho de eficácia da cetogênica é bastante maior do que da mediterrânea. Quer dizer…
essas… a cetogênica é uma intervenção terapêutica que é capaz de tratar de forma mais eficaz as doenças psiquiátricas do que a dieta mediterrânea, pelo menos são os dados de literatura que a gente tem até agora, que são os dados iniciais. Os dados de prática clínica, esses são bem mais contundentes, a gente não vê melhora muito significativa de pessoas com depressão, com quadros depressivos severos ou moderados ou severos, com uma dieta mediterrânea.
ou mesmo aumentando alimentos naturais, aumentando legumes, frutas na sua alimentação. O que a gente vê com a dieta cetogênica e também com a dieta low carb bem formulada são realmente melhoras que são muito significativas, eles são dados de prática clínica. Eu costumo dizer que essa é uma das áreas da medicina em que a ciência vai correr atrás da realidade. A gente vai ver, mas a gente já está vendo, na verdade.
muitas situações, casos, pessoas com melhoras significativas dos seus quadros, antes de grandes estudos mostrarem que essa é uma dieta efetiva. Vai ser um movimento contrário ao que a gente geralmente pensa que seria o mais lógico. É interessante isso porque quando a gente olha características secundárias, por exemplo, a gente vê numerosos estudos mostrando, e com a cetogênica, melhor humor, melhora a saúde cognitiva, dá mais clareza mental, aumenta a saciedade.
esses benefícios secundários, a gente começa a entender que talvez seja uma ferramenta interessante também como tratamento adjuvante à depressão, né? É, assim, a gente tem todos os motivos para pensar isso. E uma das coisas interessantes que em base é a… Porque assim, né, o histórico da dieta cetogênica, a dieta cetogênica não é uma alimentação natural da espécie humana, o que não quer dizer que não é natural para a espécie humana entrar em estado de cetose, isso é natural.
Mas manter um estado de cetose permanente não é natural. A dieta cetogênica foi uma dieta criada há um pouco mais de 100 anos, em 1921, e ela foi criada com um objetivo claro. Nessa época, se sabia, aliás, há muito tempo se sabia, que o estado de jejum era muito eficaz, e aí nesse caso especificamente se pensava em pessoas com epilepsia, crises convulsivas. Então se sabia que o jejum…
quando essas pessoas faziam os jejuns prolongados, não de 12, 24 horas, mas de 3, 4, 5 dias, as crises convulsivas melhoravam muito, eventualmente sumiam, desapareciam. Evidentemente, ninguém poderia fazer jejum indefinidamente. A pergunta que embasou a criação da dieta cetogênica foram duas. A primeira foi o que acontece no jejum que faz essas pessoas melhorarem de forma tão impressionante.
e a principal hipótese era, bom, no estado de jejum prolongado se fica em estado de cetose. A segunda pergunta é, será que a gente consegue formular uma dieta que imita, metabolicamente, o estado de jejum? E a dieta cetogênica foi criada para imitar o estado metabólico do jejum, sem a necessidade de ficar em jejum para que seja uma coisa sustentável. E aí se foi testar a dieta cetogênica em casos de epilepsia, crianças e adultos? E o que se viu foi que realmente funcionava muito.
Isso há mais de 100 anos. E depois muita pesquisa surgiu a partir daí, aí sim pesquisas grandes, pesquisas de intervenção para epilepsia. Então a gente já sabe há muito tempo que a dieta cetogênica é uma dieta altamente eficaz para o tratamento de epilepsia, inclusive epilepsia refratária, aquela que não respondeu a vários remédios. Vários dos medicamentos que a gente usa em psiquiatria são medicamentos que foram criados primariamente para o uso em epilepsia.
e não é psiquiatria, a gente pega emprestado da neurologia esses remédios. Acetovolpróico, lamotrigina, todos os benzos de azepínicos, de azepã, clonazepã, lorazepã, bromasepã, todos eles e outros, vários outros, são remédios que na verdade foram remédios para epilepsia. As alterações do funcionamento cerebral que estão presentes na epilepsia também, várias, muitas delas estão presentes também nos quadros psiquiátricos, então tem uma relação estreita. E aí a hipótese é bom.
se a epilepsia é muito parecida nas alterações metabólicas em relação a quadros psiquiátricos. Se vários tratamentos para a epilepsia também são bons tratamentos psiquiátricos e se a gente sabe que a cetogênica é um tratamento muito eficaz para a epilepsia, possivelmente também vai ser para a psiquiatria. Vamos ter muita inter-relação aí. Interessante. Quais são as principais causas, fatores que desencadeiam quadros depressivos, doutor?
Essa é uma pergunta difícil de responder. Primeiro porque ela não tem uma resposta definitiva. Aliás, essa é uma coisa muito importante que eu cada vez falo com os pacientes que eu atendo. Quando eu vou explicar sobre como surgiu a psiquiatria metabólica, a primeira coisa que eu digo é justamente essa. Existe uma pergunta que nunca foi respondida de forma definitiva e é qual é a causa das doenças psiquiátricas? Essa pergunta nunca teve resposta. Ela tem hipóteses, ela tem teorias.
Algumas a gente sabe. A gente sabe muito sobre fatores de risco, o que não necessariamente significa que a gente sabe sobre as causas. Os fatores de risco são situações que, quando acontecem, aumentam a chance de a pessoa ter um quadro psiquiátrico, por exemplo, a depressão. Então, abuso na infância, tanto físico quanto psíquico, por exemplo. Situações socioeconômicas desfavoráveis, pobreza, miséria, baixa escolaridade.
são situações que aumentam o risco de desenvolver depressão, mas não quer dizer que elas são a causa. Existe algum componente genético e vale a mesma coisa, a genética aumenta o risco de ter, mas não é a causa, a pessoa pode ter uma precipitação genética e não desenvolver depressão ou qualquer doença. Então essa pergunta nunca teve resposta, a teoria que sempre foi a teoria vigente, desde a metade do século passado, é o que a gente chama da teoria das monaminas, que é a que eu estava dizendo um pouquinho antes.
Monoamina são substâncias, entre elas os neurotransmissores, ou vários deles, por exemplo, serotonina, norabrenalina, dopamina, são os mais conhecidos. A ideia é de que há uma disfunção no efeito desses neurotransmissores, há uma baixa desses neurotransmissores que causam a depressão. Essa teoria surgiu da observação de que remédios usados para outros fins
algumas pessoas quando tomavam esses remédios melhoravam no quadro depressivo. E a pergunta foi, que efeitos será que esse remédio tem que faz a pessoa melhorar? E aí se viu que um dos efeitos do remédio era justamente aumentar o nível de neurotransmissores. Então daí veio a teoria. Então essa deve ser a causa. Só que essa teoria foi testada várias vezes a partir de então. Ela nunca se controvou, ela nunca se mostrou verdadeira. Então a gente tem teorias. A gente sabe que existe um componente genético, está muito bem estabelecido.
a gente sabe que experiências ao longo da vida também são um fator que aumenta o risco de ter, isso também está muito bem estabelecido, e aí do ponto de vista do funcionamento cerebral, a gente tem uma nova teoria, que é justamente a implicação do metabolismo, aí sim, a ideia, a proposta dessa hipótese é que aí seja a raiz dos quadros, que essas outras circunstâncias,
abuso como experiência, as ruas de vida, levem a alterações no metabolismo cerebral que levam à produção de sintomas. Mas isso são hipóteses, não existe uma resposta definitiva para isso ainda. Pro Leigo que está chegando aqui, quais são os papéis dos neurotransmissores? Você falou da dopamina, serotonina, esses neurotransmissores estão associados a bem-estar, prazer, a sensação de conforto, e tem mais algum papel mais interessante? Porque fica mais fácil quando a gente entende qual o papel…
E com essa baixa, por que quadros depressivos acontecem? É assim, vou tentar resumir bem resumido, mas só para entender. Os neurotransmissores são parte da comunicação entre os neurônios. Então assim, bem didaticamente, os neurônios não encostam um no outro, eles têm um espaço entre eles, que a gente chama de sinapse. Um neurônio libera neurotransmissores nesse espaço, o outro neurônio capta esses neurotransmissores e assim se dá parte da comunicação entre eles.
e alguns neurotransmissores de vários tipos, eles estão associados a efeitos específicos. Então, não quer dizer que são os únicos efeitos, nem que tudo venha daquilo, mas normalmente a gente fala, a serotonina está associado com bem-estar, satisfação, a dopamina está associado com a motivação, com a disposição, com a energia, o GABA, que é um neurotransmissor importantíssimo, ele está associado com o relaxamento da função cerebral, tudo que acalma.
e o glutamato é o contrário, ele excita, ele aumenta a atividade cerebral. Então, por exemplo, o glutamato está aumentado na epilepsia, como também na ansiedade. Os neurotransmissores são parte da comunicação entre os neurônios, eles têm essas funções, esses efeitos. Essa é a importância deles, e realmente são muito importantes. E você falou do GABA, lembrei agora, tem um estudo, mais de um estudo, mostrando a relação de quem tem resistência insulínica, GABA está lá embaixo.
Quando a gente fala em saúde metabólica, o doutor no início da live fez uma correlação muito forte, quem tem sobrepeso, obesidade, resistência insulínica tende a ter quadros depressivos, o contrário também é inverso. Então pessoas com resistência insulínica têm uma chance maior também de desenvolver quadros depressivos. Sem dúvida, a resistência insulínica é interessante porque ela está presente até onde a gente sabe possivelmente todos os quadros psiquiátricos ou neuropsiquiátricos, a gente poderia estar falando de Alzheimer aqui, por exemplo.
também está muito relacionado com isso. O interessante é que ela está presente antes da manifestação dos sintomas. Então, por exemplo, tem um estudo muito interessante que pega pessoas com o primeiro surto de esquizofrenia.
E nessas pessoas, a resistência insulínica está bem mais presente do que as pessoas que não têm esquizofrenia, antes de qualquer tratamento, antes de qualquer intervenção. É muito importante isso, porque isso inclusive determina a resposta que se vai ter aos tratamentos convencionais. A gente sabe, por exemplo, por pesquisa também, que pessoas com resistência insulina tendem a ter quadros psiquiátricos mais graves, tanto depressivos quanto…
de transtorno bipolar, por exemplo. Pessoas com resistência a insulina tendem a responder menos aos remédios, pois tem uma aplicação direta no tratamento. Tem uma pesquisa interessantíssima que pegou pessoas com transtorno bipolar em fase depressiva. O transtorno bipolar tem as fases depressivas e as fases de euforia, as fases que a gente chama de mania. Pessoas em fase depressiva refratárias, que já tinham tomado vários remédios e não tinham melhorado.
quadros significativos, quadros graves.
e separou as pessoas com resistência insulínica. E essas pessoas usaram metformina, que é um remédio que se usa comumente por diabetes, que tem como um dos objetivos principais melhorar a resistência insulínica. As pessoas que de fato melhoraram a resistência insulínica com a metformina, melhoraram de forma significativa da sua depressão refratária, sem nenhuma intervenção psiquiátrica propriamente dita, não teve nenhum remédio psiquiátrico, foi só um remédio antidiabético.
para ver como tem uma correlação muito forte do metabolismo cerebral, do corpo inteiro, do cérebro, com o quadro psiquiátrico. Esse é um trabalho que para mim é revolucionário, porque ele mostra uma intervenção que supostamente não teria nada a ver com o quadro psiquiátrico, melhorando de forma significativa um quadro refratário. E uma abordagem nutricional com pouco carboidrato é uma ferramenta excelente, justamente, para ressensibilizar a insulina, reverter a resistência à insulina. É interessante tu dizer isso, André, porque inclusive eu estava…
ouvindo uma entrevista com uma das autoras desse estudo, ela comenta justamente isso, porque alguém perguntou para ela por que a metformina como intervenção? E ela disse, olha, porque foi a única intervenção que foi aceita pelo Comitê de Ética, porque toda pesquisa tem que passar por um Comitê de Ética, e o Comitê de Ética só aceitou como intervenção o remédio. E das pessoas que tomaram o remédio, 50% reverteram o quadro de resistência insulina, e outros 50% não.
E não eram pessoas que tinham resistência à insulina avançada, quer dizer que seria pré diabetes ou diabetes, era muito antes disso. A gente sabe, né, de literatura, de prática clínica, que essas pessoas com uma dieta de baixo carboidrato, mais de 90% delas revertem o quadro. É muito mais eficiente do que essa intervenção do estudo, uma intervenção dietética. Então, doutor, pessoas com transtornos comportamentais, por exemplo, compulsão, ansiedade, pessoas que comem compulsivamente, buscam conforto na alimentação.
esse comportamento também tende a aumentar as chances de quadro depressivos? Sem dúvida, porque são comportamentos que tendem a causar uma piora do metabolismo geral da pessoa. Então é uma eu sempre eu sempre falo que o ciclo da ansiedade ele é ele é enganoso porque a pessoa com ansiedade mesmo com depressão a depressão e ansiedade são coisas que via de regra andam juntos. Existe um componente de cada um é difícil só uma coisa só. E aí a pessoa
recorre a alimentos, em geral, alimentos processados, ricos em açúcar, gordura, combinação dos dois. E que inclusive, doutor, desculpe interromper, mas esses alimentos processados também influenciam diretamente na produção dos neurotransmissores, muitos neurotransmissores, né? Exatamente, exatamente, em inflexão de forma direta, exatamente isso. Então elas recorrem esses alimentos e tem um bem-estar momentâneo, parece que os alimentos ajudam a melhorar. Só que a médio prazo…
eles estão fazendo justamente piorar o metabolismo e criando as condições para que aquele quadro psiquiátrico piore, se agrave. Então, ao contrário, ao invés de melhorar, piora. E de fato, os alimentos processados pioram muito… Por que eles pioram a resposta ao tratamento? Algumas coisas a gente sabe, outras a gente não sabe, mas por exemplo, uma dieta padrão
ou um metabolismo alterado, como num quadro de resistência insulínica, por exemplo, a gente sabe que, na imensa maioria das vezes, existe um padrão inflamatório, existe uma inflamação crônica no organismo. Essa inflamação, por exemplo, só como um mecanismo, só para exemplificar o que a gente está querendo dizer, altera a rota de formação de neurotransmissores. Então, existe uma rota, existe um precursor que é transformado em outro, em outro até chegar a formação de, por exemplo, serotonina.
A inflamação altera essa rota e mesmo tendo precursores, o que vai ser formado não vai ser a serotonina, vai ser um outro composto que é inclusive tóxico para o cérebro. Se eu tenho uma pessoa com resistência à insulina significativa, mesmo que eu dê precursores ou remédios que vão aumentar a serotonina, tende a funcionar muito menos, porque as rotas estão alteradas.
interessante isso, né? E infelizmente ainda, essa abordagem do ponto de vista metabólico para pacientes psiquiátricos, psiquiátricos ainda é um embrião, é muito recente, né, doutor? A gente vê, né, a gente tem conhecidos que fazem tratamentos psiquiátricos e, cara, por mais que tomem muita medicação, a abordagem nutricional não muda. E aí a gente vê um avanço muito lento, ou quase não tem avanço, né?
infelizmente para mim, eu acho que vai ser lento. E acho que vai ser uma mudança, eu estava até com esses temas conversando com uma nutricionista, uma colega sobre isso, a impressão que eu tenho é que vai ser uma mudança que vai vir, entre aspas, de baixo para cima, que eu quero dizer com isso, não vai ser uma mudança das diretrizes oficiais da sociedade de psiquiatria, que vão… isso, para mim, vai demorar muito para acontecer. Vai ser uma mudança a partir das pessoas.
As pessoas descobrindo isso, as pessoas testando, as pessoas procurando profissionais que trabalham com isso, profissionais tendo acesso a esse conhecimento, o principal desafio até hoje sempre foi esse. Para mim, o principal desafio para chegar nisso foi justamente o acesso ao conhecimento. Esse é um conhecimento que não está estruturado. Então, se eu posso participar de congressos de vários assuntos em saúde mental, eu posso fazer cursos, atualizações em diversos assuntos.
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Psiquiatria metabólica nunca teve isso. Para mim foi um conhecimento que eu fui tendo que construir, indo atrás, juntando peças, fazendo contato com pessoas, todas elas de fora daqui. E agora está tendo cada vez mais alguma coisa de conteúdos mais… assim, cursos mais estruturados, mas também fora, também todos em inglês, nem em português. Mas vai ser, para mim vai ser a partir daí, vai ser o movimento das pessoas. E esse é o movimento lento, o movimento que…
Enfim, eu gostaria que fosse mais rápido, a minha principal angústia justamente é essa, que as pessoas tenham acesso a esse conhecimento, porque tem uma legião de pessoas que poderia melhorar de seus quadros psiquiátricos que não melhoram e só não fazem por falta de conhecimento. Se tivessem acesso ao conhecimento, poderiam fazer. Eu falo sempre que, assim, existem pessoas que não sabem que isso existe, e se soubessem, ainda assim, não fariam.
Porque a mudança do estilo de vida, a mudança de alimentação, ela não é uma mudança fácil, ela é uma mudança difícil pra qualquer pessoa. A gente está falando de low carb, cetogênica, mas qualquer mudança de alimentação é difícil. Mas tem um grupo de pessoas que, se soubessem, ainda assim não fariam. E tem todo o direito de não fazer, as pessoas escolhem o jeito que querem viver, e não acho que ninguém teria que se meter nisso. Agora existe um outro grupo, que pra mim é grande, de pessoas que não sabem que isso existe, e se soubessem, fariam, e se fizessem, melhorariam.
E essas pessoas precisam saber disso. Perfeito. E não é só alimentação. A gente bate muito na tecla da alimentação aqui, mas o estilo de vida como um todo tem um papel importante, né, doutor? O que a gente fala… A gente fala muito da saúde em geral, no envelhecimento, mas nesse caso de saúde psiquiátrica, quais são os principais fatores do estilo de vida que influenciam, positivo ou negativamente, doutor? Ah, tem números. São vários, né? Assim, o estilo de vida moderno como um todo é o estilo de vida que adoece.
E aí, assim, a gente está falando de saúde mental, mas saúde em geral. O estilo de vida é o estilo que adoece. A gente é vítima do estilo de vida moderno. E é um ciclo de coisas. Quando eu vou propor alguma intervenção, quando eu faço uma avaliação de algum paciente, eu sempre penso assim que… Porque eu entendo que quase ninguém muda.
três, quatro, cinco coisas no seu estilo de vida ao mesmo tempo. Isso é extremamente difícil, é extremamente errado. Então, propor isso é propor uma coisa que… O que é isso que as pessoas vão fazer? E que nem seria o necessário, na imensa maioria das vezes. Então, você sempre vai pensar assim, qual é a intervenção que tem mais chance de provocar melhoras, de produzir melhoras? E essa 99,9% das vezes é a alimentação porque ela tem esse poder. Agora, atividade física…
é extremamente poderoso como tratamento psiquiátrico para qualquer quadro, depressão, mais ansiedade, mais bipolaridade, mais esquizofrenia, mais TDAH, mais qualquer coisa. Atividade física é super potente. E uma coisa que a gente se fala bastante, não é que se fala pouco, mas talvez se dê menos importância, é… Aí tem vários termos, eu chamo de hiperconectividade, ou então um outro termo que eu também…
que eu falei em algum lugar foi o excesso de vida virtual e o déficit de vida real. Então assim, é muito comum ver, por exemplo, as pessoas trabalham no celular, trabalham no computador, eles entram no trabalho e ficam quatro horas na frente do computador, param para almoçar durante meia hora, quarenta e cinco minutos, voltam e ficam mais quatro, cinco horas na frente do computador. Vão para casa e ficam na frente do celular. Isso é uma demanda.
de energia cerebral que a gente não tem condições de arcar com isso, a gente não tem condições de suprir essa demanda. Isso existe do cérebro mais do que o cérebro pode dar. Claramente isso também é um fator de adoecimento. Então, por exemplo, uma coisa que eu volto e meia sugiro para os pacientes é… Porque eu entendo que a pessoa trabalha no computador. Não vou dizer para ela que ela precisa ficar pouco tempo no computador, ela não pode.
Mas ela pode, por exemplo, a cada uma hora, uma hora e dez, uma hora e quinze, fazer uma pausa de dez minutos. E nessa pausa, eu sugiro que a pessoa faça o contrário do que ela está fazendo. Então, por exemplo, a pessoa está no computador, ela está, por um lado, olhando só elementos artificiais. Cores artificiais, brilhos artificiais, coisas que não existem. Então ela vai fechado, ela não vai só parar de trabalhar e ficar olhando um vídeo no YouTube.
Ela vai fechar a tela do computador e vai olhar pra rua, vai olhar pra outra coisa. A gente no computador, no telefone, está olhando pra perto o tempo inteiro, eu estou olhando pra algo que está a 30 centímetros dos meus olhos. Isso também é uma coisa prejudicial. Então, o que eu sugiro? Olha pra longe, olha pro horizonte, olha pro céu. Cores naturais, luminosidade natural, olhar pra longe. Quando eu estou no computador, eu estou sempre com o meu pensamento, com a minha atividade cognitiva sendo demandada.
Então eu falo que essa pausa tem que ser alguma atividade contemplativa. Escutar música, ou não pensar em nada, ficar em silêncio, sei lá, meditar, para quem quer meditar, tentar fazer um contraponto. Esses fatores do estilo de vida moderno, para mim, são os principais fatores. É essa hiperconectividade, essa vida virtual, o excesso, sedentarismo e o estilo de alimentação que a gente tem. Bom, essa…
Esses são os fatores que pra mim adoecem. Nos fatores que são fatores de melhora, eu normalmente começo pela alimentação, porque é onde tem mais poder realmente de efeito. Então, uma pessoa, por exemplo, que está num quadro depressivo, já tentou vários tratamentos, não melhora, se ela é sedentária e ela passar a fazer atividade física todos os dias, ela vai melhorar um pouco, certamente ela vai melhorar. Ela vai melhorar de forma significativa e ficar assintomática? Não vai. Raríssimas vezes isso vai acontecer. Com alimentação, isso pode acontecer.
Então, geralmente começa pela alimentação, mas tem vários outros fatores.
Isso é muito bacana, doutor, falar porque, cara, existe um bloqueio muito grande para as pessoas aceitarem o papel da alimentação na saúde geral. E o doutor Regis, como falei, ele está levantando essa bandeira já há alguns anos, mas, cara, ele está uma formiguinha ali com um bando ainda criando uma certa resistência. E quando se aplica essa abordagem, sugere essa abordagem no consultório, doutor. Há uma boa aceitação?
Isso, por sorte, tem mudado. E é engraçado, porque quando eu comecei a descobrir essas coisas, porque eu descobri isso lá por 2018, eu comecei a pensar, bom, eu vou praticar isso, eu vou colocar isso em prática, eu vou começar a sugerir para as pessoas fazerem isso. Só que as pessoas nunca tinham ouvido falar disso. Mesmo quem vinha consultar comigo, a pessoa marcava uma consulta com um psiquiatra…
esperando uma consulta psiquiátrica em que a pessoa ia falar o que ela sentia, ela ia ouvir alguma recomendação, algum diagnóstico e basicamente ela ia receber orientações de medicamentos, alguma outra coisa de atividade física. Quando eu falava sobre isso, era estranhíssimo. E hoje eu me dou conta que realmente as pessoas tinham razão em extrair, porque era uma coisa completamente fora do comum uma pessoa ir consultar com um psiquiatra e o psiquiátrico dizer olha, vamos começar uma dieta aqui para eu melhorar. Não acontecia. Começou a mudar.
Quando… Foi engraçado porque eu estava conversando com uma psiquiatra americana, que já trabalha, custa muito tempo, eu mandei email pra ela me apresentando, ela propôs que a gente conversasse, fizesse um zoom, e a gente conversou lá um dia, durante duas horas, e eu disse isso pra ela, foi nessa época, eu disse da minha angústia de não conseguir aplicar isso com os pacientes. Perguntei de como é que tinha sido a experiência dela. E ela me disse uma frase que eu nunca vou me esquecer, ela disse assim, o segredo é achar os pacientes certos.
O que eu quero dizer com paciente certo, não é um julgamento de valor? São os pacientes que realmente vão estar dispostos a mudar o seu estilo de vida, a sua alimentação para melhorar. Porque muitas pessoas não estão, e a gente está dizendo, você tem o direito de não estar. Fui aí então que eu me convenci que eu deveria começar a explorar as redes sociais, que era uma coisa que nunca me agradou, a ideia de usar o Instagram era uma coisa que eu não gostava. Mas eu me convenci que não teria outra alternativa, outra possibilidade que as pessoas deveriam primeiro me ouvir falar sobre isso.
Eu ouvi falar bastante sobre isso, me ouvi argumentar, me ouvi apresentar o conhecimento, os argumentos que fossem convincentes. E aí depois, quando elas chegassem até mim, elas já chegariam com essa ideia. E foi isso que começou a acontecer. Então hoje em dia, com pouquíssimas exceções, as pessoas que chegam até mim para uma consulta, elas já sabem o que eu faço, elas já me ouviram falar em podcasts, como esse que a gente está fazendo, em lives, em outros materiais, no meu canal no Instagram. Então elas já chegam…
com essa propensão a fazer. Aí a coisa tende a funcionar muito mais. Então isso mudou muito, mas no começo era assim, dar soco em ponta de faca. Eu entendo esse bloqueio em relação à rede social. E eu também tinha durante um tempo, mas esse trabalho na rede social que a gente faz é de educação, não é de divulgar o trabalho. Então a gente vai disseminando conteúdo. Algumas pessoas vão assimilar essa live que a gente está fazendo aqui. Cara, enquanto o YouTube existir, ela vai ficar eternamente. Então as pessoas vão ser impactadas, vão ser educadas.
e quem sabe mais na frente, por alguma razão, podem até ter vários benefícios. Doutor, eu perguntei no começo da live quais são as principais características de quem tem depressão, você pontuou alguns sintomas, inclusive, características que são opostas, de falta de energia, falta de exposição e outra é irritabilidade. E aí, como a gente pode separar, por exemplo, tristeza de depressão, irritabilidade como depressiva, como irritabilidade pontual?
É, essa é uma excelente pergunta, e difícil, e essa é uma das principais críticas que a psiquiatria tem sofrido nos últimos tempos, e é uma crítica que eu concordo, em grande parte, até. Porque assim, uma coisa que eu sempre explico para as pessoas também, principalmente para os pacientes, que existem basicamente dois tipos de sintomas, em psiquiatria, mas em saúde em geral, mas em psiquiatria específica.
Um tipo de sintoma são sintomas que só por eles existir, isso já indica que existe um problema significativo. Por exemplo, a alucinação. Então, eu estou aqui no meu consultório que só tenho eu. Se eu começar a ouvir pessoas conversando comigo, isso é uma alucinação. Bom, isso, por si só, indica que existe algum problema significativo. Mas esses sintomas são a menor parte dos sintomas. A imensa maioria dos sintomas em psiquiatria são coisas que naturalmente existem, são da natureza humana.
Tristeza, angústia, ansiedade, irritação, desânimo, falta de disposição, são coisas que todo mundo tem em algum momento, em alguma intensidade. Então o fato de isso estar presente não quer dizer nada, esse não é um fator. Aí a gente entra numa dificuldade grande, que é a dificuldade de que em psiquiatria a gente não tem marcadores biológicos, marcadores fisiológicos, a gente não tem um exame.
Não tem um exame que vai me mostrar se a pessoa tem depressão ou não, se a pessoa tem ansiedade ou não, ou qualquer doença psiquiátrica, não existe nenhum exame que auxilia no diagnóstico. Então é uma avaliação sempre subjetiva, por natureza. Aí a gente vai tentar usar alguns fatores para ajudar a entender. Por exemplo, o que a pessoa sente é coerente, congruente, com alguma circunstância?
Se alguém chega e me conta que é extremamente triste, angustiado, com muita ansiedade, o coração dispara, tem vontade de ficar na cama, tem vontade de trabalhar, porque perdeu alguém da família recentemente, eu não vou pensar de cara que essa pessoa tem depressão, vou pensar, tá bem, né? Quer dizer, tá coerente, tá congruente, parece natural. Vai ser um fator. Outro fator é a intensidade. Então, por exemplo, se uma pessoa, sei lá, aconteceu algum fato na vida negativo,
mas não de uma magnitude muito grande. E a pessoa está na cama o dia inteiro, parou de comer, perdeu 10 quilos nos últimos 40 dias, tem uma coisa que parece desproporcional. É um outro fator. O tempo é um outro fator também. Então, a pessoa que terminou um namoro de dois anos e há dois anos está deprimida, não consegue se reerguer. Então, a gente vai juntando esse quebra-cabeças e tentando…
entender se aquilo é alguma coisa patológica ou se é alguma coisa natural. É difícil. A crítica que a psiquiatria sofre é que cada vez mais ela está eliminando esse fator natural e encurtando os tempos, por exemplo, e tornando com muita facilidade as reações patológicas. Eu concordo, acho que a psiquiatria está fazendo isso mesmo. Mas nem sempre isso é uma coisa… Em quadros evidentes fica muito fácil a gente saber, mas existe uma sutileza de quadros que não são muito…
que são graves ou que não tem uma intensidade muito grande, que às vezes não é tão fácil avaliar. E aí nessa sua entrevista com paciente você também entende como é o estilo de vida e alimentação, e aí fica mais fácil entender também. E aí do ponto de vista da alimentação, doutor, na sua prática, nos seus estudos, quais são os piores, as piores opções? Vamos falar do ponto de vista da alimentação, aqueles maiores inimigos para quem tem algum quadro delicado psiquiátrico.
Eu penso assim, existem… Eu penso na alimentação, claro, de diversas formas. Eu penso assim, que a gente pode pensar em alimentos especificamente, então alimentos que podem ser bons ou alimentos que podem ser ruins, e bons e ruins não como categorizar, mas que podem ter efeitos interessantes, ou efeitos deletérios, ou a gente pode pensar em um estilo de alimentação, como é que é, no geral, a dieta daquela pessoa.
Na imensa maioria das vezes, o que faz mais sentido é a dieta, é o estilo de alimentação no geral. Existem alguns alimentos, especificamente, que a gente sabe que são prejudiciais ao funcionamento do corpo e do cérebro também. Por exemplo, açúcar, sem dúvida nenhuma, farinha, carboidratos refinados, óleos artificiais, óleo de soja, milho, canola, girassol.
e muitas vezes a combinação desses elementos, que são justamente os alimentos processados. Os alimentos processados, em geral, são uma combinação de gordura e carboidrato, que, por sinal, é uma combinação que virtualmente não existe na natureza, não existem alimentos com essa combinação. Então, basicamente, é o que eu olho, é o estilo de alimentação, no geral, e a presença desses alimentos, especificamente, que podem ser alimentos ruins, junto com a avaliação.
laboratorial do estado metabólico. Juntando-se essas peças, eu tenho uma ideia do quanto a alimentação está sendo prejudicial por causa dessa pessoa e do quanto as mudanças de alimentação podem ser benéficas.
Recentemente eu vi um vídeo da doutora Janaína, acho que todo mundo aqui conhece, e ela está também no movimento bem interessante de tratamento, do câncer, tratamento metabólico, ela também segue essa abordagem nutricional. E foi um trecho no qual ela falava que alguns oncologistas, talvez a maioria, durante o tratamento oncológico até permitem tomar refrigerante, por exemplo, comer açúcar desde que não emagreça. E ela fala para o paciente,
Cara, é o estilo de vida, muito provavelmente, e é o consumo disso que levou ou acentuou o desenvolvimento do câncer, por exemplo. Então, nada disso. Então, quando você fala, doutor, nesses exames laboratoriais para entender o impacto metabólico, é importante também entender que talvez essa alimentação talvez não tenha causado depressão, mas tenha tido uma forte influência no desenvolvimento da depressão. Então, permitir ou não essas exceções é delicado, né?
É, é assim, é exatamente isso. E aí tem uma coisa interessante de falar, André, é o seguinte, porque a gente tem uma tendência a pensar, e é lógico pensar, que assim, se uma coisa causa uma doença, bom, a gente tirar ou minimizar essa mesma coisa, isso melhora a doença. O que é verdade, obviamente é verdade. Mas no caso da alimentação e doenças psiquiátricas, existe uma coisa além disso, então assim. Se uma pessoa tem um quadro depressivo, por exemplo…
não está melhorando, que está se arrastando, que já faz tratamento há muito tempo, tomou diversos remédios. Eu faço uma avaliação metabólica, eu vejo que essa pessoa tem algumas alterações no metabolismo, por exemplo, resistência insulínica e outras. E eu sei que essas alterações, em grande parte, foram causadas pelo estilo de alimentação que ela tem. Então, se a gente melhora o estilo de alimentação e, como consequência, reverte as funções metabólicas, isso vai provocar, com raríssimas exceções…
uma melhora significativa no quadro psiquiátrico dessa pessoa. Algumas vezes… Então, sim, pode ser que a alimentação tenha sido um fator importante para causar aquele quadro psiquiátrico, porque a gente está corrigindo a alimentação, vai ser um fator importante e melhor. Mas a alimentação, especificamente com a dieta cetogênica, ela é também um tratamento para os quadros psiquiátricos, independente de alterações metabólicas. Então, pode ter, por exemplo, isso acontece…
pessoas que têm um quadro psiquiátrico crônico, refratário, que não melhoram, a gente faz avaliação metabólica e, pelo menos, dos exames que a gente pode avaliar, porque algumas coisas a gente não tem como avaliar, também não tem nenhuma disfunção metabólica evidente. Ainda assim, a dieta vai ser um tratamento efetivo a maioria das vezes. Quer dizer, não depende da pessoa ter um metabolismo desregulado para que a dieta seja efetiva. Ela pode, costuma ser efetiva, mesmo se a pessoa não tiver nenhuma disfunção metabólica evidente.
Bacana demais, está falando sobre isso, o ponto de vista da alimentação. É interessante hoje, apesar de a gente estar fazendo esse trabalho aqui há alguns anos, o doutor está estudando também há alguns anos, mas ainda é muito novo. A gente vê como a abordagem nutricional tem um papel importante como tratamento principal ou adjuvante de questões psiquiátricas. E do ponto de vista laboratorial, doutor, o que você olha mais para identificar características depressivas? Alguns fatores diferentes, sem dúvida nenhuma.
O grau de resistência à insulina é… Eu acho que todo mundo deveria saber, independente de se tem algum tipo de doença ou não, se tem algum grau de resistência à insulina, onde está nesse espectro a resistência à insulina, porque isso é uma coisa que coloca a pessoa numa chance aumentada de desenvolver inúmeras doenças psiquiátricas, neurológicas, cardiovasculares, endocrinológicas e outras. Essa é uma das principais. Sempre vai ter no meu…
na minha avaliação, avaliação da resistência à insulina, para ter a avaliação sempre da função da tireoide, que é implicada no metabolismo em geral do corpo, a tireoide é o regente do metabolismo, então a gente precisa sempre avaliar, níveis de algumas vitaminas, especialmente o complexo B, que tem uma importância enorme para o funcionamento cerebral, níveis de alguns minerais, são alguns que via de regra, com raríssimas exceções tão presentes. E aí, dependendo de cada caso,
outras avaliações, mas aí são específicas, não são do kit geral, como dizer. Essas que eu disse estão no kit geral de avaliação porque são… Eu sempre penso assim, a gente precisa sempre avaliar quais são os fatores que se tiverem alterados, sabidamente tem uma implicação no funcionamento cerebral e então na formação de sintomas. E só alguns, existem alguns outros também.
A genética influencia, mas o quanto ela influencia, doutor?
A genética, eu acho que a gente deve começar a tirar a importância da genética dos nossos discursos. Não que ela não tenha importância, a gente sabe que ela tem, mas em geral a gente pensa na genética como quase uma sentença. Eu tenho predisposição genética para tal coisa. Bom, é uma questão de saber…
Quando eu vou manifestar aquilo? E qual vai ser o fator desencadeante? Em psiquiatria a gente se acostuma a aprender isso. Então, assim, a pessoa conta que ela tem vários diversos casos na família de pessoas com depressão, transtorno bipolar, por exemplo. Ela vai contar que ela tem a mãe, o pai, vários tios, avós, tem isso. Então, eu vou dizer, olha, existe uma forte predisposição genética a ter isso. A dúvida é…
que época da vida ela vai começar a manifestar e qual vai ser o fator que vai desencadear. Tudo que a gente sabe hoje bem é que a genética não é determinante. Existem coisas que são mais poderosas do que a genética para determinar se a pessoa vai desenvolver alguma doença ou não. E por sorte, esses fatores mais poderosos que a genética são fatores que a gente tem controle, porque a genética a gente não tem.
Então eu acho que a gente deve relativizar um pouco a genética. A gente deve levar em consideração na avaliação, obviamente que a gente deve levar em consideração na avaliação, inclusive a pessoa deve saber que ela tem uma predisposição, que ela tem uma chance aumentada. Mas o que eu faço no consultório, eu falo isso, e em seguida eu já digo, mas isso não é sentença. Inclusive a gente pode, com as intervenções certas, anular essa chance aumentada de ter.
ou pelo menos agir nisso, que é o conceito de epigenética, que é o conceito mais moderno, depois eles vão sofrendo transformações em outros nomes. Assim, resumidamente a gente sabe que existem fatores que estão relacionados ao estilo de vida, que fazem com que determinados genes se manifestem ou não se manifestem. Entre várias aspas, a gente pode ligar ou desligar genes, como se fosse um interruptor. E isso é feito pelo estilo de vida. Então…
a genética está subordinada ao estilo de vida. Então, eu acho que a nossa ênfase tem que ser muito mais no estilo de vida do que na genética em função disso. Perfeito. E algumas pessoas até assumem isso como uma desculpa, né? Não, a minha tireóide está desregulada, é uma genética… Não, melhor estilo de vida, melhor alimentação. E aí tendem a melhorar tudo isso também, né, doutor? Doutor, qual o papel do sono, a qualidade do sono no desenvolvimento da depressão? É fundamental. É fundamental.
até acho que naqueles fatores que eu estava dizendo antes de vida virtual, sedentarismo, de vetal som ali também, porque é mais uma das consequências do estilo de vida moderno, é tanto uma diminuição da quantidade de sono, da qualidade do sono, do ritmo circadiano no geral, o nosso ritmo biológico, dia e noite, existe toda uma orquestração desse ritmo que a gente simplesmente desestrutura.
E isso a gente sabe que tem uma implicação. Tem implicação no desenvolvimento de doenças psiquiátricas, na ansiedade, na depressão, muito, na bipolaridade, muito. As pessoas com transtorno bipolar, quando o sono fica desregulado, elas têm uma chance muito maior de desenvolver algum tipo de surto. Mas além disso, a gente sabe, por exemplo, que uma noite mal dormida é capaz de, no dia seguinte,
piorar a resistência insulínica ou gerar algum grau de resistência insulínica, desregular todo o mecanismo de apetite, então a gente sabe que uma noite mal dormindo a paciente comer muito mais calorias vindas de alimentos processados, não de alimentos naturais. O sono é importantíssimo. Ele é causa e consequência. Ele gera os quadros psiquiátricos e a insônia, a dificuldade de sono é consequência da maioria dos quadros psiquiátricos. Cuidar bem do sono é importantíssimo. E é difícil.
É difícil porque envolve renunciar várias coisas que fazem parte do nosso estilo de vida. A gente fica com o celular até de noite, a gente ainda vai para a cama com o telefone, a gente fica olhando telas até cinco minutos antes da hora que a gente quer dormir, e a gente não consegue dormir.
É interessante falar nisso e eu não sei se você já teve algum paciente que passou por isso. Quando alguém se adapta a uma cetogênica, por exemplo, tem tanta energia que algumas pessoas começam a desenvolver dificuldade para dormir. Você já teve algum paciente assim, doutor? Isso acontece, isso não é pouco frequente. É uma fácil adaptação, na imensa maioria das vezes isso se ajusta com o tempo. Mas é interessante falar nisso porque assim. Eu sempre falo assim, a gente sabe bem que a dieta cetogênica ela é uma dieta extremamente segura.
que é um dos… sim, tem vários mitos circulando pela web, pela internet sobre cetogênica, e infelizmente muitos profissionais de saúde, às vezes com muita relevância, muito grandes nos redes sociais, falando coisas que são completamente… bizarras, bizarras. É, exatamente, exatamente, essas coisas absurdas, absurdas. E em uma delas, um dos mitos é que a dieta cetogênica é uma dieta perigosa, que vai trazer uma série de complicações a longo prazo, a gente sabe que isso não é verdade.
dieta cetogênica mal formulada pode acontecer isso, mas… Então, assim, é uma dieta segura. Agora, em pessoas que vão fazer uma dieta cetogênica para tratamento de alguma condição psiquiátrica, essa pessoa deveria ter o acompanhamento de alguém com experiência nisso. Eu estou dizendo isso especificamente pela questão do sono, porque é comum, ou pode acontecer, não é que seja extremamente comum,
tem sonho, dificuldade de dormir. E numa pessoa com quadro psiquiátrico, você pode, inclusive, piorar o seu quadro psiquiátrico, e isso é uma coisa que a gente tem que ativamente manejar. Sim. Via de regra, isso dura alguns dias, uma semana, duas semanas, e depois se estabiliza. Então, é uma coisa que pode acontecer, consequência em parte desse estado de mais energia, de ficar mais ligado, que é justamente um dos benefícios da dieta, mas que em pacientes…
psiquiatros, porque isso é uma coisa para a gente sempre abrir o olho e manejar com cuidado, porque a insônia pode desencadear pior a dos quatro psiquiatros. Em alguns casos também acontece do indivíduo dormir menos horas, mas numa qualidade maior também, melhor, né? Isso é bastante frequente, a pessoa passa a dormir seis horas, mas… e o principal parâmetro é se a pessoa acorda se sentindo descansada, né? O sono reparador que a gente…
E se ela ao longo do dia se sente bem, está muito comum isso. A pessoa se sente melhor, mais disposta, com mais energia, o humor melhora. Mas ela passou a dormir seis horas ao invés de oito. Mas ela acorda disposta, ela acorda descansada. E aí é simplesmente um sono mais eficaz, mais efetivo. E aí a quantidade de sono necessário diminui. Isso é bem frequente também. Você falou aqui no começo que a depressão é mais comum em mulheres. Mas existem características diferentes? O homem apresenta mais características específicas e mulheres outras?
equivalente? Os sintomas não são tão diferentes. A saúde mental feminina, a saúde geral feminina, a saúde mental feminina, ela tem diferenças significativas, algumas em relação à saúde masculina, justamente porque a fisiologia feminina em alguns níveis, ela é bastante diferente, especialmente no nível hormonal.
A vida hormonal masculina é uma vida mais linear, é uma vida menos complexa do que a vida hormonal feminina, que é muito mais complexa e mais cíclica. Isso faz com que existam características diferentes e até a avaliação se torne mais complexa. Então, por exemplo, a gente vê, de forma muito comum nas mulheres, os sintomas se agravarem, se intensificarem no período pré-menstrual, na segunda fase do ciclo menstrual. Muito comum.
influenciado pelas variações, flutuações hormonais, esse é o fator que interfere. Quads depressivos com início na perda da menopausa, no climatério, aquele período perda da menopausa, onde as mudanças hormonais se tornam acentuadas nas mulheres, extremamente comum também. Isso é importante perceber porque isso tem implicações no tratamento. A gente precisa olhar para esse lado, que é um lado, sim, que de forma…
comum ele é negligenciado na psiquiatria. Eu lembro, por exemplo, que na minha formação, na residência em psiquiatria, muito pouco a gente falava sobre a influência hormonal nos quadros psiquiátricos e mulheres, mesmo em homens. Hoje em dia é muito comum os falar, por exemplo, da testosterona como um fator que leva a quase depressivos. Infelizmente, a insuficiência de testosterona é comum.
Especialmente para as funções metabólicas, essas que a gente está falando o tempo inteiro, elas levam a esses quadros. E nas mulheres o estilo de vida moderno leva a desregulações hormonais muito mais intensas do que seria o natural. Isso gera sintomas, isso gera características específicas dos quadros psicátricos nas mulheres. Então tem diferenças significativas, não no tipo de sintomatologia, mas na maneira como se apresenta, certamente sim.
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tem questão genética envolvida, a pai, tio, avô, bisavô, e quer se cuidar. A depressão pode ser prevenida, pode ser evitada, o que fazer? É uma pergunta difícil. Acho que a gente tem que ter muito cuidado em fazer afirmações sem ter muita segurança no que a gente fala. A minha tendência, a minha opinião é que sim.
pode ser prevenido em grande parte, na imensa maioria das vezes. Agora, não existe nenhum dado robusto de literatura mostrando isso, e essa é uma pesquisa que nem tem tempo de ser feita, é muito difícil de ser feita, porque tem que acompanhar pessoas ao longo de décadas, várias pessoas. Então talvez a gente nem vai ter esse dado na literatura de forma robusta. Agora, quando a gente sabe fatores de risco, quando a gente sabe alterações no metabolismo que estão na base dessas doenças como depressão,
A gente também sabe que lidar ou melhorar ou impedir que essas coisas aconteçam certamente é prevenção, mesmo em pessoas que têm genética. Porque é um raciocínio simples que a gente deve fazer para depressão, para ansiedade, para diabetes, para obesidade, para qualquer doença. A genética de uma espécie muda ao longo de milhares de anos. Ela não muda ao longo de 100 anos.
E a gente tem a incidência, a prevalência, quer dizer, essas doenças todas são muito mais comuns hoje em dia. Há 100 anos, elas eram doenças pouco frequentes. Obesidade era muito pouco frequente, diabetes era pouco frequente, depressão era muito menos frequente, ansiedade muito menos. Então elas não estão aumentando pelo fator genético. Não é o fator genético. São os outros fatores, é o estilo de vida, essa combinação de vários fatores que são o estilo de vida.
Então sim, se a gente souber ter um estilo de vida saudável no geral, a gente poderia ficar debatendo aqui o que é um estilo de vida saudável, mas isso certamente é fator de prevenção, mesmo em quem porventura tenha genética, predisposição genética, é possível prevenir sim, se a gente souber o que fazer. Uma vez diagnosticada a depressão, é possível ser curada?
Aí, de novo, vou ter cuidado com os termos, assim, né? Sim. Por alguns motivos, né? Primeiro, o principal motivo é porque… Eu tenho muito cuidado com o que eu falo, porque eu sei que eu tô numa área nova, tô numa área que, dentro da psiquiatria, ela é controversa e que ela não vai ser bem vista pela psiquiatria convencional. Então, qualquer afirmação que possa parecer muito ousada, eu preciso ter cuidado pra fazer pra não me tornar…
para não correr risco de ser meio levieta. Curar eu acho uma palavra difícil. O que eu acho que dá para dizer com segurança e sem nenhum risco de ser exagerado? É que uma grande parte dos quadros psiquiátricos, inclusive depressão, pode ser colocado em remissão com alguns tratamentos metabólicos. Grande parte é a dieta cetogênica. O que significa remissão? Significa que aquela doença não está mais se manifestando.
Quando a gente fala… Porque cura é um termo que a gente usa quando a gente faz uma intervenção, melhora, retira aquela intervenção e a pessoa continua bem. Então, por exemplo, a pessoa tem uma pneumonia, ela toma um antibiótico, a pneumonia vai embora, ela para o antibiótico e segue a sua vida como ela era antes, a pessoa não tem mais pneumonia, então ela se curou, teve uma cura. Uma pessoa que tem uma depressão refratária, por exemplo, que é grande parte do meu alvo…
pessoas, são pessoas que têm depressão há muito tempo, tratam há bastante tempo e não melhor. Essa pessoa quando começa um tratamento metabólico, por exemplo, uma dieta cetogênica bem feita e outras mudanças de estudo de vida, muitas dessas pessoas podem fazer com que a depressão pare de se manifestar, ela não tem mais, ela está bem, os sintomas não se manifestam mais. Se seis meses depois essa pessoa passar a comer uma dieta cheia de processados, ela vai voltar a ficar depressiva. Então falar em cura eu acho meio ousado nesse sentido, agora falar em remissão…
Aí a gente pode falar tranquilamente que grande parte dos casos pode entrar remissão. Plenamente plausível, é igual a obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão, né? Entra em remissão, mas se voltar ao estilo de vida é possível que volte tudo, né? Exatamente, e assim, faz todo sentido, porque se é o estilo de vida que causa aquela doença, em grande parte, ou se voltar ao estilo de vida anterior, o que vai acontecer, né? Vai voltar. Doutor, uma vez identificado, alguma pessoa que a gente tem um carinho, um apego muito grande…
identificar a depressão, quais são as melhores formas de oferecer suporte e apoio a essa pessoa?
Deixe-me só voltar um pouquinho à pergunta anterior, porque tem uma coisa que eu acho importante falar. A gente sabe bastante coisa sobre psiquiatria metabólica, mas a gente está aprendendo muita coisa aí. Principalmente da prática. E uma das coisas que a gente está aprendendo, porque uma das dúvidas que as pessoas voltam e me perguntam no início é eu vou precisar fazer a dieta cetogênica a vida inteira? Quanto tempo eu vou precisar fazer? E a resposta mais…
verdadeira que a gente pode dar hoje em dia é, não sei. Por quê? Porque a gente vê isso, que existem algumas situações de pessoas que fazem a cetogênica, melhoram, e depois de um certo tempo, saem da cetogênica, nunca por uma dieta padrão, cheia de processados, mas por exemplo, por uma alimentação low carb, não cetogênica, e essas pessoas, algumas delas podem se manter bem. A gente sabe, por exemplo, que em epilepsia isso é muito comum.
crianças que fazem cetogênica plebsia, elas fazem por um certo período, média, uma, dois anos, depois elas, a maioria para e se mantém bem. Então, eu faço questão de dizer isso porque é uma dúvida comum, vou precisar fazer isso por quanto tempo, o resto da vida? Não sei, talvez sim, talvez não. Mas em relação a tua pergunta sobre o que fazer quando a gente tem alguém próximo que tem um quadro depressivo, por exemplo.
Tem algumas coisas que são universais, que infelizmente ainda acontecem. O estigma em saúde mental é uma coisa… Eu acabo falando pouco sobre isso, porque o foco do meu olhar não está para ir, ele está para a intervenção metabólica, para as pessoas com doenças refratárias que querem melhorar e não estão melhorando. Mas existe muito estigma. E uma grande parte do estigma é uma ideia de que a pessoa poderia se ajudar mais.
a pessoa poderia se esforçar um pouco mais, então muitas vezes se dá conselhos, assim, ah, faz um pouco mais de fogo, te ajuda, sai, vai te distrair um pouco. Ou para a pessoa que está triste por algum evento qualquer, isso é completamente válido, a gente estimula da força, para a pessoa que tem um quadro depressivo mesmo, ela não está em casa porque ela não tem, porque ela não está fazendo força para sair de casa, ela está fazendo toda a força que ela pode.
passe a fazer coisas que ela não está conseguindo fazer porque ela não consegue. É tentar entender o que está acontecendo nesse sentido de que é algo que realmente a pessoa não tem controle e oferecer ajuda. Se colocar a disposição para ouvir, para estar junto, sem julgar, quer dizer, sem julgar significa ouvir sem necessariamente dar um conselho, dizer o que a pessoa tem que fazer ou o que a pessoa deveria ter feito. Ouvir, ser um bom ouvinte e tentar ajudar a realmente procurar, ajudar a procurar ajuda.
E aí nesse sentido poder criar o caminho para começar a melhorar. Maravilha, deu nossa hora aí. Eu queria deixar a recomendação para todos, tá? Doutor Regis, aqui, tive a honra de conhecê-lo pessoalmente lá em Floripa, no Brasil Locarby. Verdade. Um cara fantástico, um profissional incrível, tá? Que tá levantando essa bandeira, tá? Indo para a linha de frente, falando sobre psiquiatria metabólica, tem muito conteúdo bacana no seu Instagram. Então se você tem interesse, precisa, conhece alguém que tá…
precisando cara chegue lá. Psiquiatria metabólica está aqui está na descrição do vídeo está aqui na tela no YouTube está aqui no Instagram também está na descrição do podcast então recomenda chega lá porque não subestima o papel da limitação. Muitas vezes o indivíduo chega com a questão psiquiátrica e acha que vai ter uma intervenção só medicamentosa mas muitas vezes a mudança na limitação vai ter um papel muito forte no desenvolvimento no tratamento da questão.
É verdade, justamente essa é a minha ideia de estar nas redes, de estar tentando divulgar isso, é esse conhecimento, tem inclusive um dos posts que eu fiz, é justamente sobre isso, quer dizer, existe, dá para ter esperança de melhora quando os remédios não funcionam? Dá, dá para ter, porque os remédios não são a única solução, existem outras que são bem interessantes, a alimentação é a principal e ela é muito poderosa em grande parte das vezes.
Realmente, essa é a mensagem. É… Obrigado pelo convite, eu vou te… Não sei se chega a te dizer isso já, mas eu te acompanho há bastante tempo, porque eu sou um corredor amador, há muito tempo, corpo. Sempre gostei de correr em jejum, sempre tive essa… muito antes de trabalhar com psiquiatria metabólica, há 15 anos corri em jejum, treino, provas, então desde o começo do Atletas Volcáreos, eu sempre fui um ouvinte.
Bacana, e é aproveitando o enceijo do jejum. O jejum também serve como ferramenta terapêutica, doutor, em quadro depressivo? Sem dúvida. O jejum é muito poderoso, né? Eu só tenho um cuidado em psiquiatria para colocar o jejum. Eu sempre falo assim que eu raramente, raramente mesmo, sugiro o jejum de início, porque o jejum ele é, primeiro assim, para quem tem uma alimentação com muito processado, com muito carboidrato, o jejum é um super desafio, é difícil de fazer.
Para quem não tem nenhuma doença psiquiátrica, para quem tem fica muito mais difícil. Então, eu não sugiro de início, assim, com pouquíssimas exceções. Às vezes a pessoa já vem tendo pesquisado o jejum com vontade de fazer e aí ela pode fazer. Agora, eu não sugiro não porque não é bom. O jejum é uma excelente ferramenta. A gente estava falando antes justamente de que a cetogênica imita o jejum. O jejum melhora o metabolismo, o jejum melhora a resistência à insulina.
O jejum é a medida não farmacológica mais eficiente para melhorar a resistência insulina. Então, é uma super intervenção o jejum. Mas eu acho que ele tem que ser feito quando ele é algo que não vai gerar um nível de ansiedade, de angústia muito grande, porque é uma pessoa que já está querendo melhorar disso. Se ela vai ter uma angústia por não conseguir fazer um jejum que ela sente que ela deveria fazer, é meio complicado. Mas para quem consegue fazer o jejum de forma relativamente tranquila, eu acho uma super ferramenta.
Quando você fala no tratamento da cetogênica, seria cetogênica mais terapêutica, no qual talvez tenha um controle da insulina bem baixo e a cetose bem alta ou seria uma cetogênica mais tradicional? É, isso também é uma das coisas que a gente ainda não sabe de forma mais definitiva, mas eu sempre falo assim, o que se sabe, o que parece é que para a epilepsia, embora isso está sendo desafiado também, mas sempre parece que existe uma relação entre…
níveis maiores de cetose produzem efeitos maiores. Isso produz um efeito terapêutico maior. Felizmente, na psiquiatria, o que a gente tem até agora de conhecimento sugere que não é assim. Muitas vezes não precisa de cetose mais alto. A gente pode ter uma cetose leve a moderada. Então, o tipo de alimentação…
ela é muito menos difícil de fazer do que a cetogênica terapêutica, aquela que tem uma quantidade de gordura altíssima, é uma quantidade de proteína pequena. Então a gente não precisa, em geral, ter uma dieta tão estrita a cetogênica. Ela tem que ser cetogênica porque ela tem que produzir cetose, mas ela pode ser uma cetose, em geral, com níveis leves a moderados. Então alcançando 0.7, 0.7, 8, 1, está ótimo.
ao redor de um ou algo entre 08 e meio é suficiente. É bem mais fácil alcançar. No começo, bater 0.5 pode ser desafiador, mas uma vez entrou na cetose, o indivíduo vê como é tranquilo manter, né? É, esse é o nível de cetose que a maioria das pessoas consegue atingir, consegue ficar. Então, realmente, é tranquilo de manter esse nível de cetose. Dr. Regis, obrigado pela aula.
Cara, enriquecedor demais o conteúdo. Espero que, para quem precise, abra a mente, pense um pouco fora da caixa e vá acompanhar o trabalho do Dr. Regis. Assim como ele falou, escute sem julgar, entendendo o conteúdo e faça um paralelo sobre a realidade que você, talvez se você precisar, entenda como a alimentação pode influenciar o estilo de vida principalmente. Dr. Regis, mais uma vez muito obrigado pelo seu tempo, pelo conteúdo aqui. Cara, obrigado pelo convite. Estou sempre à disposição.
Rapaziada, beijo no coração, tchau tchau a todos, até a próxima.